terça-feira, 16 de junho de 2009

Um “Treino” diferente…

Gassho

Quem diz que Shorinji Kempo só se pratica no Dojo? Quem diz que Shorinji Kempo se resume à aprendizagem das técnicas? Se para os Kenshis estas perguntas têm respostas óbvias, para outros menos familiarizados talvez não o sejam. Shorinji Kempo é muito mais que uma forma de desenvolvimento físico através da via marcial. Esta, ao invés de “fim” e “objectivo”, é sim um “meio”, um “instrumento” em si mesma! É nesta perspectiva que escrevo este post, respondendo ao repto lançado por Araújo Sensei.
A Kenshi Sílvia propôs a visita a um local perto do Bombarral onde se encontra uma exposição de Budas e outros elementos artísticos orientais, com entrada livre. Considerando a raiz e filosofia budista do nosso belo Shorinji Kempo, juntando uma bela dose de curiosidade e a vontade de “laurear a pevide” na companhia de um excelente grupo de amigos, de imediato pareceu uma excelente ideia a todos, ficando então a saída agendada para 14 de Junho. Sairíamos de manhã, com a “marmita” preparada para um pic-nic e depois à tarde ponderava-se uma ida à praia. Comecemos então pelo início.
Reunidos às 9 da matina, lá nos encontrámos por baixo da ponte de Barcarena para uma viagem em caravana, composta pela Kenshi organizadora Sílvia, Miguel e Kenshi Leonardo; D. Filomena e Araújo Sensei, Joana Senpai e Paulo Silva Sensei; Kenshis Catarina e Pedro e Rita e João. Direitos à A8 até ao Bombarral foi “um tiro” e, pouco antes, das 10h estávamos à porta do místico Buddha Eden – Jardim da Paz. A entrada pouco ou nada diz do que realmente se passa dentro daquele espaço já que a fonte junto do estacionamento e, mais abaixo, a outra com o deus romano Apolo contrastam culturalmente com a essência do local. De qualquer maneira, a beleza estética destas figuras em nada compromete as expectativas da visita.
A fachada de pedra surge como que um portal para mundo completamente aparte absorvendo-nos de uma maneira tal que quase nos esquecemos que vivemos numa cultura ocidental. A amplitude, abertura e mística do espaço não permitem qualquer indiferença! Por muitas palavras que aqui ficassem, ainda sobraria muito por dizer, por isso convido-vos a verem algumas das fotos que devem dar para construírem uma muito pequena ideia.


Fica a descrição de uma sensação de paz e descanso espiritual que dificilmente se encontra na cidade (o que também nos faz lembrar alguns dos “porquês” de praticarmos Shorinji Kempo). Além do mais, a companhia e boa disposição do grupo, a fluidez da conversa e naturalidade do convívio, a quantidade e qualidade dos cenários e paisagens são “apenas” elementos que tornam a experiência mais inesquecível e absorvente. Não é possível deixar de fazer o reparo na abertura dos Senseis que, durante todo o dia, deixaram os Dogis e respectivas divisas em casa, tal como todos os outros presentes, tendo-se juntado realmente um grupo de amigos cuja “única” semelhança é gostarem de se expressar através do Shorinji Kempo.
Tiradas tantas fotos, com tantas poses e sorrisos, tivemos ainda a oportunidade de viajar (mentalmente claro está!) até aos portões de Hombu em Tadotsu (Japão) para ver os seus dois guardiões (Nions), para além do Buda mais tradicional com o antigo Manji ao peito. Isto juntando à viagem que fizemos à Grande Muralha da China para vermos os imensos e realistas Guerreiros de Terracota.
Ao final da visita a fome já aperta! Nada melhor então do que o convite da Kenshi Sílvia para irmos até casa dos seus pais (já que era ali tão perto) para nos sentarmos confortavelmente a conversar, enquanto comíamos e bebíamos. À chegada encontramos a Kenshi Diana (e seu irmão) que entretanto se junta ao “Gang do Buda”, para além dos já mencionados e afáveis pais da organizadora. Fica desde já o agradecimento aos Srs que foram tão hospitaleiros e agradáveis, proporcionando ainda um guloso petisco de enchidos e um belo sumo de frutos vermelhos - leia-se "uvas" - com bastantes antioxidantes os quais terão sido a única razão para alguns beberem uns bons copitos do tão gabado sumo.
Devo dizer que, se de manhã a visita foi um regalo para o espírito e para os olhos, este período foi um regalo para o estômago (óbvio!) mas especialmente para os ouvidos e para a mente. A conversa e partilha de experiências sobre o Shorinji Kempo levou-nos a conhecer mais particularidades, semelhanças e diferenças de cada um e entre cada um, bem como mais histórias interessantes sobre o passado desta arte que tanto nos cativa e motiva. Devo ainda confessar que me senti como que… não diria “transformado” mas sim “renovado” na forma como encaro o treino e a arte em si. As diferenças nas concepções de ensino e prática, as constatações e partilha de reflexões sobre momentos recentes e já bem passados, as expectativas de cada um sobre os outros… todo este momento está gravado na minha memória e espero que agora se consiga reflectir nas minhas acções e atitudes, tornando-me ainda melhor. Falo pessoalmente porque sou eu que escrevo o post mas penso poder dizer, sem qualquer pretensão, que todos os que partilharam aquele momento saíram mais ricos e, pelo menos, ligeiramente diferentes e melhores. Não consigo deixar de referir, mais uma vez, a forma como os Senseis despiram a sua pele de professores e se colocaram na pele de praticantes, partilhando as suas ideias e experiências connosco, “jovens” praticantes que tanto temos para percorrer e aprender até pensarmos em chegar a ser um pouco do que aquelas pessoas são e representam para nós e para o Shorinji Kempo… para a sociedade. Sinto-me um privilegiado por poder beber do conhecimento de pessoas tão humildes e reflexivas e sei que outros sentirão o mesmo. Senti-me ainda um privilegiado por sentir que há um grupo de amigos que se forma, transforma e evolui a cada treino, a cada momento de convívio. Não há muitas experiências melhores que essa e nem todos têm a sorte de poder ter isto que nós temos. A vontade de crescer para poder fazer algo pelo Shorinji Kempo é a melhor forma que sinto que temos para podermos honrar e agradecer o tempo que estas pessoas de família despendem para passarem connosco, a ensinar-nos, a treinar em conjunto e a conviverem para que possamos ser melhores do que éramos “ontem”.
E porque o dia já ia longo, e São Pedro começava a deixar ver o solinho, lá nos juntámos nos carros mais uma vez para irmos até à praia do Paimogo, onde passámos cerca de 2h, fechando-se o dia por volta das 16h30. Durante este bocadinho uns aproveitaram para dar uns passeios à beira-mar, outros para procurarem mais maravilhas escondidas nas rochas, outros para dar o primeiro mergulho da época e outros ainda para alguns momentos de introspecção. Isto até à altura em que se juntam todas as toalhas para se fazer uma jogatana de “Uno”, com a Kenshi Catarina a mostrar como se ganha… várias vezes… seguidas!
Feitas as despedidas restava voltar à realidade e ao começo de mais uma semana de trabalho, aulas e… TREINOS! Claro está!, com Energia Renovada e Redobrada!
Foi um excelente treino de Shorinji Kempo, dos melhores que já tive até hoje!, e espero que se continue a repetir mas, se possível, com mais Kenshis, já que nestes momentos não há Branchs nem Escolas. Apenas amigos que partilham um gosto comum e que escolhem desenvolver-se em conjunto, dentro e fora do Dojo.
Fica mais uma vez o agradecimento à Kenshi Sílvia pela ideia e à sua amável família por nos terem acolhido de uma forma tão hospitaleira e por nos terem proporcionado tão brilhante dia.

Gassho e Boa Semana!
João

PS – vejam o link do jardim e saboreiem mas não deixem de fazer uma visita ao local: http://www.buddhaeden.com/index.html

3 comentários:

  1. Uff...

    Por pouco pensei que fosses ocupar o blog todo! :D Ehehe...

    Foi um dia bem passado e em excelente companhia! Aguardam-se novas ideias para repetirmos o convívio, preferencialmente, com mais praticantes! ;o)

    Rita Catita

    ResponderEliminar
  2. “Sem quimonos brancos pelo Bombarral fora” … è verdade foi um inicio de manhã ensonado mas na curva contra curva rapidamente se tornou em risada e brincadeira. Como se costuma dizer poucos mas bons (contudo não se aplica “ só faz falta quem está”, todos fazemos falta) e o verdadeiro espírito de Shorinji Kempo veio ao de cima, sentiu-se um clima de amizade, respeito e ao mesmo tempo de descontracção.

    João, é gratificante ler este texto, não te esqueceste de quase nada (quase porque esqueceste de referir que o Pedro torturou o cão da Diana :-) e que a Rita se fartou de falar, já nem a podia ouvir :-)!

    Espero poder partilhar mais convívios “ Sem Dogi e com Dogi” , apesar de não estar a treinar continuo a ser kenshi Joana ,sem duvidas, do Branch de Sintra , puxem pelo Grande Mestre Araújo “façam-nos correr descalço pela estrada fora” , conto com o vosso esforço e dedicação … em breve estarei aí .

    Beijinhos/Gassho
    Joana Araújo

    ResponderEliminar
  3. Gassho!
    Foi um momento muito agradável, e para mim especial, eu adoro aquele lugar (Budha Eden Garden -Jardim da Paz) e não me canço de lá ir e de levar comigo os meus familiares, amigos e conhecidos, sim porque eu divulgo a toda a gente aonde fica este precioso lugar, onde reina a paz, e assim espero que continue.
    Levar lá a conhecer este espaço aos meus amigos do Shorinji Kempo foi particularmente gratificante, não só pela amizade mas também pelo convivio em que se tornou. O dia pareceu-me curto ou seja devemos de fazer mais projectos destes mais vezes e com mais kenshis, claro, porque tivemos muita pena em que os outros amigos não podessem ir.
    Um muito obrigado ao João pelas tuas palavras e pela discrição do dia, está "fabulástica"
    Bjs.
    Gassho!
    Silvia Costa.

    ResponderEliminar